Já foi há algum tempo mas ainda assim resolvi publicar a crítica que encontrei num site ligado à CM de Sines ao concerto dado no fim de 2003:
Música para a música e para Deus - Com duas palavras apenas - “Kyrie eleison” (“Senhor, tende piedade”) - começou a grande música europeia. Com duas palavras apenas - “Kyrie eleison” - se fez melhor música portuguesa de sempre, nos séculos XV, XVI e XVII, em lugares agora insuspeitos como, por exemplo, a Sé de Évora. Com “Kyrie eleison” começou a “Missa ab initio ante saecula creata sum”, de Manuel Cardoso (c. 1566-1650), a magnífica peça que fechou o concerto de Natal 2003, realizado dia 20 de Dezembro, na Igreja Matriz, com o Grupo Vocal Olisipo a fazer jus ao prestígio. A polifonia da Renascença é uma música curiosa: são textos sagrados cantados “a capella” por senhoras de saia preta e senhores de calça vincada, mas é sobretudo um espectáculo da música a divertir-se com ela própria. Música para Deus, mas música para a música, ornamentada, conspícua, lúdica. Quando chegou no seu cavalo preto, a Contra-Reforma tentou disciplinar a sensualidade pouco sagrada da música sagrada do seu tempo, mas perdeu a batalha. Graças a Deus. Porque se tivesse ganho talvez não sorrissem como sorriam Elsa Cortez (soprano), Maria Luísa Tavares (soprano), Lucinda Gerhardt (contralto), Diogo Cerdeira (tenor), Armando Possante (barítono e direcção) e Carlos Pedro Santos (baixo). Sorriam porque havia o Céu no Céu e o Céu cá em baixo, no baile das suas gargantas. Além da missa de Cardoso, o Grupo Vocal Olisipo interpretou dois vilancicos de Natal de Pedro Rimonte (um banquete harmónico) e quatro responsórios de Natal de Estêvão Lopes Morago (as peças mais solenes). O Concerto de Natal foi uma organização da Associação Arte das Musas e da Diocese de Beja (Departamento do Património Histórico e Artístico), no âmbito do I Festival Terras Sem Sombra. A Câmara Municipal de Sines, uma das entidades que apoia o festival - cujo mecenas é a Administração do Porto de Sines -, foi co-organizadora.
2 comentários:
Esse foi o concerto em que eu estava doentinha... Mas foi muito bom na mesma! Foi tb o primeiro sem o nosso Huguito. A crítica é original!
Não é lindo?...
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